quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O dia em que um anjo completaria 77 anos



Uma curiosidade une os dois maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Assim como Pelé nasceu em um dia, mas foi registrado em outro anterior (como já foi postado aqui no blog), Garrincha, seu companheiro de seleção, nasceu no dia 28 de outubro de 1933, mas em sua certidão de nascimento consta dia 18. Confusões à parte, se estivesse vivo, o maior camisa 7 da história faria hoje 77 anos.

Manoel dos Santos nasceu em Pau Grande, no Rio de Janeiro, e foi uma criança do momento em que nasceu até o dia 20 de janeiro de 1983, quando nos deixou. Ainda menino, ganhou o apelido que ainda não lhe transformava em anjo, mas já lhe dava asas: Garrincha, um pássaro arisco de cor parda e cauda vermelha. Trabalhava desde os 14 anos numa fábrica de tecidos, que praticamente sustentava seu município. Após fazer testes no Vasco e no São Cristóvão, onde foi ridicularizado devido à suas pernas tortas, foi levado ao Botafogo por Arati, ex-jogador do clube. No primeiro treino com bola, o endiabrado ponta já foi colocando a redonda por baixo das pernas do já consagrado Nílton Santos, que posteriormente seria compadre do craque. O lateral esquerdo pediu a contratação imediata do franzino e torto jogador, pois não queria que a cena se repetisse com ele, e sim com seus adversários.

Pelo Botafogo, Mané fez história e transformou o Glorioso numa das principais potências do futebol mundial de sua época. Jogava ao lado de craques como Didi, Zagallo, Amarildo e, claro, Nílton. Fez excursões ao mundo, que fizeram o time da Estrela Solitária ser reconhecido, por exemplo, como um dos 20 grandes clubes do século pela FIFA. Jogando pela Seleção Brasileira venceu a Copa de 1958, e em 1962 fez de tudo em campo depois que Pelé se contundiu, e deu ao Brasil o bicampeonato.

Costumava a batizar os zagueiros de “João”, não por deboche, mas sim por simplicidade. Ser um centro avante e jogar no time de Mané era garantia de muitos gols para seus companheiros de ataque, mas o camisa 7 fez história não somente por seus dribles. Talvez devido à sua ingenuidade, foi um dos primeiros jogadores a adotar o que hoje é chamado de “fair-play”, ao jogar uma bola para a linha lateral enquanto um jogador adversário estava caído no chão. Foi graças a ele, também, que um dos cânticos mais eufóricos de excitação ao jogo bonito foi entoado pela primeira vez, o “olé”, em um jogo entre Botafogo e River Plate no México, no qual o ponta-direita, como sempre, arrebentou.

Apesar de ter vencido diversos adversários, Garrincha, o "Anjo das Pernas Tortas", perdeu a luta para um, o álcool. E o vício acabou custando a vida do craque, que aos 50 anos faleceu graças a um edema pulmonar, com lesões no fígado agravadas pela bebida. É o único jogador que é comparado com Pelé com alguma justiça. Em 1962, o jornal chileno El Mercúrio chegou a questionar “De que planeta viene Garrincha?”. Ainda não temos certeza. Certo é que hoje, ele com certeza está em algum lugar melhor, vestindo sua camisa 7 preta e branca, e soprando as setenta e sete velas de primavera antes de fazer o que mais gosta. Brincar de jogar bola.

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